VESTÍGIOS | Fundação EDP

VESTÍGIOS

"Vestígios"

27 MAI - 17 JUL 2011

Museu da Eletricidade

Naquele lugar falavam homens, cheirava a óleo e a sabão, rangiam materiais, cheirava a ferro batido, a suor, cheirava a madeira cortada, chiavam e batiam máquinas e martelos, zuniam correntes de ar, as serras magoavam os operários, batia a chuva nas vidraças voltadas a norte. Agora há um manto de pó sobre tudo isso e um manto de silêncio sobre as fotografias que registaram a queda lenta desse pó – imagens que servem para nos recordar a inevitabilidade da morte”. É assim que João Pinharanda, comissário da exposição Vestígios contextualiza este trabalho de Luís Campos que foi convidado pela Comissão Instaladora da Fundação EDP a registar a memória da antiga Carpintaria da Central Tejo - que será agora demolida no âmbito do projeto de construção do novo Centro Cultural da Fundação EDP.

Este foi o primeiro edifício a nascer neste complexo, albergando no final do século XIX a refinaria da Companhia do Assucar de Moçambique. No início da década de 2000 surgiria aí a primeira galeria de arte contemporânea da Fundação EDP inaugurada com Apresentação, uma coletiva com obras de Ana Jotta, Fernanda Fragateiro, Leonor Antunes, João Pedro Vale, Nuno Cera, Xana e Rui Toscano. Seguir-se-iam Medley de Joana Vasconcelos (prémio EDP Novos Artistas 2000), Tectos Falsos de Patrícia Garrido, e Aldeia da Luz, de Luís Campos.

O trabalho que Luís Campos agora apresenta regista o último sopro dessa antiga carpintaria, numa linha de coerência com anteriores trabalhos seus como Aldeia de Luz, Limiares e Transurbana. Em Vestígios somos colocados em espaços subjetivos que convidam à interiorização e à construção de uma narrativa simbólica.

O projeto fotográfico de Luís Campos é complementado por dois filmes que acentuam essa dimensão terminal do espaço e dos seus atores: Percursos (sonorizado com um original de José Júlio Lopes) revela flashes fantasmáticos, em câmara lenta, deste espaço. Carpintaria cruza fragmentos de poemas de Walt Whitman, Herberto Helder, Paul Bowles e Jorge de Sena, entre outros, com textos técnicos e relatórios de serviço deixados para trás pelos operários (música original de Rui Gato, vozes off de Joaquim Furtado e Márcia Breia).

 

A exposição Vestígios pode ser vista de 27 de maio a 17 de julho de 2011, na sala Cinzeiro 8 do Museu da Eletricidade.

 

A Carpintaria na história do projeto artístico da Fundação EDP

“Poderei dizer que foi nos espaços aqui mostrados que começou a história da relação entre a Fundação EDP e a arte contemporânea. Em 2000, o Museu de Eletricidade encontrava-se no início de um longo processo de restauro. Era necessário encontrar espaços para uma exposição que reforçasse a vontade da Comissão Instaladora da Fundação EDP em promover a arte contemporânea. No vasto campus, um edifício destaca-se ainda hoje pelo inesperado perfil exterior, em torre, e pelo precioso segredo do seu espaço interior: é a chamada Carpintaria e, a ela adossado, o Armazém Novo. A escolha destes lugares foi simples mas a sua adaptação à nova função, complexa. Desativados na década de 1980, estes espaços eram depósito de tudo o que se estragava ou era dado como obsoleto. Os primeiros sete artistas a expor, em 2001, foram convidados a usar o “lixo” que achassem esteticamente produtivo para as suas instalações – o resto saiu em dez contentores para reciclar... Foi assim que o espaço regressou à pureza possível de um passado que acumulava de décadas de vida e trabalho. Luís Campos, que também aqui expôs na continuidade da programação, registou, em 2002, esse momento de equilíbrio entre o passado e o futuro. É o resultado desse trabalho que se apresenta agora, dez anos depois. As condições de conservação e segurança ditaram o encerramento do espaço, inaugurando um tempo de itinerâncias nacionais. A reabertura do edifício do Museu, em 2006, disponibilizou novos espaços (a Sala de Exposições e a do Cinzeiro 8) e continuou a dispensar a Carpintaria e Armazém anexo. Sabemos agora que para toda esta zona está prevista a implantação do novo Centro Cultural e das Artes da Fundação EDP. Será sobre a memória que aqui apresentamos que teremos que inventar as memórias desse nosso futuro.”

João Pinharanda, Comissário

 

 

ARTISTA

Luís Campos nasceu em Lisboa, em 1955. Licenciou-se em Medicina em 1978. É director do Serviço de Medicina do Hospital de S. Francisco Xavier, coordenador nacional do Registo de Saúde Eletrónico e Presidente do Conselho para a Qualidade na Saúde.
Realizou a primeira exposição individual em 1981, em Lagos, a convite do pintor Joaquim Bravo. Recebeu em 2002 a medalha do Conseil Générale des Hauts-de-Seine no Salon d'Art Contemporain de Montrouge.
A sua obra está presente em diversas coleções como Coleção PLMJ, Coleção Pedro Cabrita Reis, MACE - Museu de Arte Contemporânea de Elvas, MEIAC - Museu Extremeño e IberoAmericano de Arte Contemporânea (Badajoz) e Museu da Imagem (Braga), entre outras.

 

Obras em exposição

20 Maio 2011