Carla Filipe: In my own language I am independente | Fundação EDP

Carla Filipe: In my own language I am independente

Carla Filipe: In my own language I am independente
Museu de Serralves
24 MAR - 10 SET 2023

Obra de Carla Filipe
"Camuflagem", de Carla Filipe. Cortesia da Fundação de Serralves

Carla Filipe (Vila Nova da Barquinha, Portugal, 1973) é uma artista multidisciplinar, autora de uma obra que questiona a relação permeável entre objetos de arte, cultura popular e ativismo. Ancorado no desenho, em experiências pessoais e numa aceção da autobiografia enquanto arquivo experimental da contemporaneidade, o seu trabalho resulta da apropriação de artefactos e documentos com que é construída uma forma própria de retrato social e, simultaneamente, de autorretrato. Uma das artistas mais marcantes do atual panorama artístico. 

Aproximando-se das metodologias da antropologia, Carla Filipe observa, recolhe, entrevista e documenta vestígios de narrativas individuais e coletivas, interpelando criticamente as discursividades convencionadas acerca do passado recente e da própria atualidade. Neste processo, aborda conteúdos tão transversais quanto as noções de território, trabalho, propriedade, memória, identidade ou representação. São estes os temas presentes nesta exposição antológica da artista no Museu de Serralves, que reúne obras produzidas ao longo de cerca de duas décadas de trabalho.

O título da exposição, In my own language I am independente, é retirado de uma inscrição da própria artista numa imagem do seu arquivo fotográfico. O título mistura dois idiomas — o inglês e o português — algo muito característico e recorrente no seu trabalho. Sem preconceitos e com uma grande liberdade, Carla Filipe erige uma plataforma de criação e de análise única sobre as transformações políticas, económicas, sociais e culturais do passado e do presente, através de um pensamento sem fronteiras geográficas. 

Nos primeiros anos do novo milénio, o percurso de Carla Filipe foi fortemente marcado pela cena artística da cidade do Porto. Participante ativa na corrente artist-run-spaces (espaços geridos por artistas) foi cofundadora do “Salão Olímpico” (2003-2005), juntamente com Eduardo Matos, Renato Ferrão, Isabel Ribeiro e Rui Ribeiro e do “Projecto Apêndice” (2006-2008) com Isabel Ribeiro. Imbuídos na prática que se define por do it yourself (faça você mesmo), os artistas criavam e programavam os seus espaços de exposição e concebiam a sua própria imagem gráfica de comunicação e divulgação através da produção de fanzines, convites, mapas de exposições, textos visuais e livros e edições de autor.

É exatamente esta manualidade, subjacente a toda a criação artística de Carla Filipe, que estará em foco no mezanino da biblioteca de Serralves, lugar que acolhe uma das mais importantes coleções de livros e edições de artista da Europa. Esta exposição, complemento à que se apresenta nas galerias do museu, reúne livros e edições de artista, maquetas de livros e múltiplos, convites, posters e outras publicações, meios que testemunham a valorização de um contacto recíproco com a sociedade e que nos dão a conhecer um pouco mais Carla Filipe, como cidadã e como artista.

A Fundação EDP é mecenas desta exposição. 

Sobre a artista
Nasceu em 1973, Vila Nova da Barquinha, Portugal. Vive e trabalha no Porto. Foi co-fundadora dos espaços Salão Olímpico (2003-05) e O Projecto Apêndice (2006), ambos no Porto. Em 2009, recebeu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para uma residência nos Acme Studios, em Londres. Realizou também residências na AIR Antwerpen (Antuérpia, 2014), na Robert Rauschenberg Foundation (Captiva, Florida, 2015) e na Krinzinger Projekte (Viena, 2017). 

A lista de exposições individuais inclui, entre as mais recentes, Confissões de uma baptizada (curadoria de João Mourão, Arquipélago, Azores, 2022), Hóspede (curadoria de Marta Moreira de Almeida, Galerie Carrée, Nice, 2022), Amanhã Não Há Arte (curadoria de Luís Silva e João Mourão, MAAT, Lisboa, 2019), É um espaço estranho e maravilhoso, o ar é seco, quente e insípido / Precarious, escape, fascination (curadoria de João Mourão e Luís Silva, Kunsthalle Lissabon, Lisboa, 2010), Arquivo Surdo-Mudo (curadoria de Zbynek Baladrán, tranzitdisplay, Praga, 2011). 

De entre as várias exposições coletivas em que participou, destacam-se O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã (um projeto de Carla Filipe e Ulrich Loock, Galeria Municipal do Porto, 2018), Au Sud d’aujourd’hui. Art contemporain portugais [sans le Portugal] (curadoria de Miguel von Hafe Pérez, Fundação Calouste Gulbenkian, Paris, 2015), Le lynx ne connaît pas de frontières (curadoria de Joana Neves, Fondation d’entreprise Ricard, Paris, 2015), Re-Discovery III (com Ivan Kožaric, curadoria de Ulrich Loock, Contemporary Art Berlin, 2015), 12 Contemporâneos: Estados Presentes (curadoria de Suzanne Cotter e Bruno Marchand, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, 2014) e Hospitalidade (curadoria de Miguel von Hafe Pérez, Hospital de São João, Porto, 2009). 

São ainda de assinalar as participações na 4.ª Bienal de Arte Contemporânea dos Urais Industriais (curadoria de João Ribas, 2017), 32.ª Bienal de São Paulo (curadoria de Jochen Volz, 2016), 13.ª Bienal de Istambul (curadoria de Fulya Erdemci, 2013), 5.ª Bienal de Jafre (curadoria de Carolina Grau e Mario Flecha, 2011) e Manifesta 8 (curadoria de tranzit.org, Múrcia e Cartagena, 2010). 

An illustrated guide to the British Railway to my study (edição de autor, 2010), As primas da Bulgária (Kunsthalle Lissabon, Lisboa, 2013) e Boletim CP (Editorial Concreta, Valência, 2013) são algumas das publicações que Carla Filipe tem vindo a realizar. Em 2014, o Museu Coleção Berardo e a editora Archive Books publicaram a sua primeira monografia, por ocasião da exposição da cauda à cabeça (curadoria de Pedro Lapa, Museu Coleção Berardo, Lisboa, 2014).
 

19 Abr 2023