A “Velocidade” é o tema central da edição 9 da revista Electra | Fundação EDP

A “Velocidade” é o tema central da edição 9 da revista Electra

Imagem de Marcheç Duchamp
Marcel Duchamp "De Rotoreliefs [Discos ópticos]", 1935 (publicado em 1953) © The Museum of Modern Art, Nova Iorque / Scala, Florença

 

Prosseguindo o seu propósito de pensar as palavras e os conceitos com que o nosso tempo se pode dizer, a Electra faz da Velocidade o Assunto do seu número 9.

Entre os vários nomes usados para designar a sociedade contemporânea, um dos mais convenientes é o de sociedade da velocidade. A aceleração técnica da modernidade, que nos tempos mais recentes, com a informática e as tecnologias digitais, chegou a um estádio extremo, tornou-se o fenómeno mais determinante tanto das transformações sociais e económicas, como das mutações culturais que configuram as nossas formas de vida. No nosso século, a velocidade não parou de aumentar e a aceleração de crescer. Essa grandeza tomou conta de tudo: dos trabalhos e dos dias, dos ócios e dos prazeres, das angústias e das expectativas. A velocidade mudou e determinou tudo: a política e a comunicação, a economia e a sociedade, a ciência e a cibernética, a arte e o amor, a comida e o sono, a doença e a saúde, a vida e a morte.”, lê-se no editorial da revista. A velocidade é um fenómeno social total.

Esta edição estava preparada quando o mundo desacelerou devido à pandemia da covid-19. E também esta pode ser olhada do ponto de vista da velocidade, seja pela sua propagação acelerada e global e pela desaceleração do contacto, seja pela suspensão que provocou e pela corrida desenfreada para lhe encontrar um antídoto.

O tema da Velocidade é, com perspectivas diversas, pensado neste dossier, que inclui já uma reflexão actualizada e muito original sobre a pandemia. Para isso, esta edição conta com a colaboração de reconhecidos autores, em cujas obras a Velocidade tem sido um tópico motivador de análise e reflexão: François Hartog, Frédéric Neyrat, Yves Citton, Laurent de Sutter, Federico Leoni, Aurélien Barrau, António Guerreiro e João Pacheco.

Na secção Primeira Pessoa é entrevistada Vandana Shiva, uma das mais conhecidas activistas ambientais do nosso tempo, que aqui fala do seu trabalho em favor da agricultura orgânica. Shiva defende o imprescindível papel das mulheres para uma economia cuidadora, humana e ecológica. Preconiza ainda a necessidade de lutarmos contra a distorção do significado original das palavras, fruto da linguagem do mercado e da colonização.

Gorbatchov é o protagonista de um trabalho de William Taubman, professor emérito de ciências políticas e autor de várias obras entre as quais Gorbachev: His Life and Times (2017), que traça um retrato de um “herói trágico que mudou o mundo (mas não tanto quanto queria)”. Neste perfil, a política, com as suas vitórias e derrotas, os seus dilemas e desastres, as suas causas e consequências, encontra a vida, com as suas emoções, angústias, perplexidades e solidões.

Deve uma obra literária ou artística ver-se limitada por razões éticas e políticas?” é a interrogação que dá o mote à secção Diagonal. A esta pergunta, suscitada pela polémica em torno da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Peter Handke, que fez publicamente a defesa do presidente sérvio Milosevic, respondem João Barrento, crítico, ensaísta e tradutor, e Michel Surya, escritor e director da revista francesa Lignes. No cruzamento de argumentos e razões, passa a sombra de algumas dos grandes debates dos últimos séculos e jogam-se noções e valores tão fundamentais como liberdade, criação, ética, estética, responsabilidade.

19 Jun 2020