Unharias Ratóricas de Von Calhau! | Fundação EDP

Unharias Ratóricas de Von Calhau!

Unharias Ratóricas

12 fevereiro - 19 maio 2020

Curadoria: Doxamitrax

Central

Unharias Ratóricas é uma exposição Von Calhau! Unharias é uma palavra-valise que une Unhas e Ninharias. Unhas são estruturas compostas por queratina, presentes nas pontas dos dedos de alguns animais. Ninharias são coisas pequenas ou insignificantes. Ratóricas é plural de Ratórica. Ratórica é um ersatz possível para Retórica, em que o E de Elusão foi substituído pelo A de Alusão. Alude à imagem de um animal que também tem unhas: o Rato. Esta alusão é um piscar de olhos à tese Oulipiana (1), que afirma que os escritores são ratos que constroem labirintos de onde tentam escapar. Esse inofensivo povoador de doenças é um condutor radical de vírus. E se a palavra é um vírus, como afirmava um conhecido exterminador que às vezes também era escritor (2) então o rato é um exímio condutor e disseminador de palavras. Palavras que se amontoam, gerando textos. Textos que se amontoam, gerando livros. Livros em francês diz-se Livres. Livres ao espelho resulta em servil. Um rato servil ao espelho. Um rato servil ao espelho movimentando-se na noite escura, tentando escapar do labirinto cuja construção não para de querer construir. Edificar-se no espaço.

Unharias Ratóricas é uma exposição que pretende espacializar um livro. Um livro intitulado Acéfalanterna (disponível para consulta no espaço da exposição e lançado no dia 29 de Fevereiro de 2020, dia suplementar do ano bissexto, com a singularidade de ser um ponto único no calendário, de quatro em quatro anos).

A exposição amplifica materiais do livro em suportes de papel, vídeo e outros, e da posterior tradução destes para poemas cegos, compostos com o auxílio de uma máquina Perkins Brailler, usando apenas a letra A do código braille, que se releva na singularidade de um ponto único na folha de papel, de quatro em quatro milímetros. O mesmo A da Ratórica que substituiu o E da Retórica. Mas também o A que principia e finaliza o título do livro: AcefalanternA. Princípio e fim tocando-se. Mecânica dos materiais bissextuais. Passagem da letra A ao ponto O. Do O de Óptico ao A de hÁptico. Nem um nem o outro, mas a corda que os separa. Nem uma nem a outra, mas a corda que as une. Dois pólos: um negro e um branco (3), atravessando-se. Duas polaridades: uma branca e uma negra misturando-se. A diluição última dos pólos realiza-se na activação do falso trovão, a descarga eléctrica. Dez. Nove. Oito. Sete. Seis. Cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Clear!

 

(1) Oulipo: Ouvroir de Littérature Potentielle. Colectivo maioritariamente francês de escritores e matemáticos fundado em 1960 por Raymond Queneau e François Le Lionnais, cujos trabalhos literários se baseiam no uso exaustivo de constrangimentos.

(2) William S Burroughs (1914 – 1997). Exterminador e escritor Americano. Partindo da tese Oulipiana, podia-se dizer que, quando não andava a exterminar ratos, Burroughs juntava-se a eles.

(3) Nota: usa-se a expressão a negro para designar o que é impresso a tinta (para ser visto com os olhos / visão óptica) e a branco para designar o que é impresso em relevo (o que é para ser visto com as mãos / visão háptica)

 

 

12 Fev 2020