Rentrée 2021 apresenta no maat projetos de Grada Kilomba e Carsten Höller | Fundação EDP

Rentrée 2021 apresenta no maat projetos de Grada Kilomba e Carsten Höller

"O Barco/The Boat", a primeira instalação performativa de grande escala da artista portuguesa Grada Kilomba, e "Dia", exposição com a qual Carsten Höller transforma todo o espaço do museu marcam a programação do outono de 2021 no maat. 

Grada Kilomba: "O Barco/The Boat"

“O Barco/The Boat” é uma instalação da artista Grada Kilomba, composta por 140 blocos, que formam a silhueta do fundo de uma nau e desenham minuciosamente o espaço criado para acomodar os corpos de milhões de africanos, escravizados pelos impérios europeus. No imaginário ocidental, um barco é facilmente associado à glória, liberdade e expansão marítima, descrita como “descobertas” mas, na visão da artista, “um continente com milhões de pessoas não pode ser descoberto” nem “um dos mais longos e horrendos capítulos da humanidade – a Escravatura – pode ser apagado”.

Esta primeira instalação de grande escala de Grada Kilomba, que se estende junto ao Tejo por 32 metros de comprimento, convida o público a entrar num jardim da memória, no qual poemas descansam sobre blocos de madeira queimada, recordando histórias e identidades esquecidas. Que histórias são contadas? Onde são contadas? Como são contadas? E contadas por quem? São questões que se colocam ao entrar nesta instalação.

Grada Kilomba inaugura esta obra com uma performance, em três atos, na qual várias gerações das comunidades afro-descendentes são as intérpretes centrais; tendo a produção musical de Kalaf Epalanga, “O Barco/The Boat” torna-se um lugar de reconhecimento, um jardim de memória e contemplação do futuro. Comissionado pela BoCA, este projeto é apresentado na Praça do maat, em frente à Central, entre 3 de setembro e 17 de outubro de 2021.

Carsten Höller: "DIA"

Com o amanhecer, chega a luz. A exposição "Dia", que será apresentada no maat, reunirá uma série de trabalhos — desde esculturas com lâmpadas a projeções e elementos arquitetónicos — que produzem luz (e escuridão). As obras expostas abrangem um período que vai de 1987, altura em que Carsten Höller ainda trabalhava como cientista, até aos dias de hoje.

Light Wall (2021), erguida no exterior, perto da entrada do maat, saudará tanto visitantes como transeuntes com um conjunto de lâmpadas azuis que brilham com uma assombrosa frequência de 7,8 Hz, que é a ressonância eletromagnética da Terra produzida por descargas de energia tais como relâmpagos ou trovoadas dentro da superfície da Terra e da ionosfera.

Lisbon Dots (2006/2021), instalada na grande nave oval que ocupa o espaço central do museu, consiste em 20 holofotes que acompanham os movimentos das pessoas e lhes permitem recrear-se com um jogo de “distanciamento e proximidade social”.

"Dia" organiza-se como um percurso onde se incluem salas despidas de objetos que contêm apenas luz, corredores cheios de luz ou escuridão, uma secção com dispositivos de néon que medem o tempo (diurno!) e um “quarto de hotel” onde Two Roaming Beds (2015) está instalada. Este último espaço poderá ser alugado de maneira a que se pernoite no museu e desse modo se usufrua com privacidade de tudo quanto está exposto. As camas deambularão aleatoriamente pelo espaço e deixarão um rasto da viagem noturna de quem aí dorme na forma de uma linha de cor viva no chão, a qual, com o tempo, traçará um gigantesco desenho.

Poder-se-á, por conseguinte, chamar a "Dia" uma retrospetiva das obras de Höller que produzem luz e/ou escuridão. Não será instalada nenhuma parede destinada a apresentar a exposição e nenhuma luz do museu será utilizada — tudo será iluminado pelas próprias obras de arte.

Um relevante programa público, intitulado Meditações 7,83 Hz, com curadoria de Mariana Pestana, acontecerá entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022. Meditações 7,83 Hz é um conjunto de performances e uma publicação em vinil que reúne contribuições de pensadores e compositores contemporâneos sob a forma de meditações, dando corpo a uma ressonância entre a Terra e o ser humano. 7,83 Hz é a frequência das ondas cerebrais humanas durante o estado de relaxamento do “sonhar acordado”. Lançada num tempo marcado por uma crise ambiental global e por um estado de isolamento social com profundas repercussões a nível psicológico, esta performance-publicação presenteia o público com uma sequência de composições terapêuticas textuais e sonoras, recordando-nos que a interdependência ecológica é radical e totalizadora.

Vulnerable Beings / Seres Vulneráveis
Entre outubro e novembro, o maat apresenta também uma assembleia pública
sobre o espaço e o tempo das epidemias, por Andrea Bagnato e Ivan L. Munuera

O contágio é sempre uma função da proximidade uma proximidade que começa a tornar-se desconfortável. No seu relatório mais recente, a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES) observa que “as pandemias estão a tornar-se mais frequentes, impulsionadas por um aumento contínuo dos eventos de doenças emergentes subjacentes”, e que estas são causadas pelas consequências ecológicas da expansão agrícola e urbana. Seres Vulneráveis é a primeira parte de um projeto multissectorial, organizado por Andrea Bagnato e Ivan L. Munuera, que utiliza o espaço físico como a lente privilegiada para compreender as doenças infeciosas.

Como se sabe, a saúde pública a ciência e a prática de controlo do contágio reformulou edifícios e cidades. Contudo, embora as melhorias no mundo ocidental tenham sido inegáveis, a saúde pública foi também um instrumento de opressão e segregação colonial e tais legados permanecem pouco examinados. E quando a pandemia do VIH começou em 1981, tornou-se claro que mesmo no Ocidente, os indivíduos e grupos sociais que não seguiam a norma foram excluídos da mesma. O projeto parte destas considerações para formular três perguntas: Como se produz e espacializa o conhecimento epidemiológico, e como se abre a “caixa negra” da ciência? Como podemos re-significar a doença e a saúde, para acabar com as metáforas problemáticas? Que formas de envolvimento coletivo, inventividade e solidariedade são possíveis?

Para "Vulnerable Beings", reunir-se-ão artistas, académicos e ativistas em duas assembleias presenciais no maat em Lisboa, numa densa agenda de palestras, diálogos, exibições, música, e atuações de manhã à noite. A primeira assembleia, Tuning In (29–31 de outubro), começará no rescaldo da pandemia, e questionará quais as vozes que precisam de ser ouvidas. A segunda assembleia, Sounding Out (26–28 de novembro), voltará às histórias e geografias inesperadas, e antecipará possíveis futuros.

 

01 Jul 2021