Awdiˈtɔrju | Fundação EDP

Awdiˈtɔrju

 

Curadoria Miguel Von Hafe Pérez

16 de Maio - 13 de Outubro de 2019

Sala das Caldeiras

Com um percurso consolidado de mais de três décadas de trabalho, Pedro Tudela (Viseu, 1962) mantém uma atividade que cruza disciplinas como a pintura, o desenho, a escultura, a instalação e a fotografia. Acresce que a sua intervenção na esfera sonora não só o sinaliza como um pioneiro no modo como a trata, como elemento não exclusivamente ilustrativo ou adjacente à sua prática escultórica ou de instalação, mas como uma entidade que pode ganhar espessura própria e determinar condições de materialização site-specific.

O título da exposição concebida por Pedro Tudela para a Sala das Caldeiras da Central Tejo é awdiˈtɔrju – trata-se da transcrição fonética da palavra auditório. Logo nesta passagem de uma convenção linguística apesar de tudo pouco conhecida da população em geral, cria-se um momento de estranheza inicial que aponta precisamente para o deslizar percetivo que a sua obra reclama do espetador.

Na verdade, todo o espaço da Sala das Caldeiras irá transformar-se no palco de uma experiência imersiva que conjuga uma peça de som acompanhada de três momentos em que uma escultura e duas instalações habitam o espaço, numa coreografia meticulosamente desenhada a partir de elementos como um sino (fabricado especificamente para este contexto) suspenso, num equilíbrio instável com asas tombadas no chão, sete campânulas que gotejam para outros tantos buracos negros e um corredor de luz protegido por telhas transparentes.

Todo o movimento de som reverbera no espaço num mapeamento tão etéreo quanto físico, manipulando um caleidoscópio de sons primários retirados do toque de uma série de sinos diferenciados, posteriormente tratados digitalmente a partir dessa arquitetura percetiva que se desenvolve como uma partitura espácio-temporal por todo o edifício.

A ideia de trabalhar um espaço como a Sala das Caldeiras da Central Tejo, desconstruindo a sua condição de catedral da modernidade, através de elementos desestabilizadores do paradigma dessa modernidade nas artes visuais (a respetiva autonomia disciplinar), como a luz e o som enquanto material de desmaterialização do objeto artístico, é aqui traduzida numa experiência única que parte paralelamente desta utilização dos sinos e das campânulas como alegoria que nos alerta para as condições em que atualmente habitamos o meio ambiente e para o modo como abusamos dele.

 

Fotos: Bruno Lopes

14 Maio 2019